12 de julho de 2014

Almanaque: Especial Copa 2014/2




Até aqui, show de bola
Por: António Torres
António Torres, 73 anos, baiano, ficcionista e cronista, tem cerca de 20 livros publicados, está traduzido em 12 línguas e foram-lhe atribuídos vários dos principais prémios literários brasileiros, como o Jabuti e o Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em novembro de 2013. Foi jornalista, inclusive da área do desporto.

Rio de Janeiro, 12 de junho 
Manchete do dia: "Chegou a hora". Sim, é hoje, neste Dia dos Namorados, véspera do Dia de Santo António, o casamenteiro, que começa a Copa do Mundo no país que a sediará pela segunda vez, podendo até orgulhar-se de ser o único a participar de todas já realizadas, desde 1930, nas quais experimentou as glórias das conquistas de 1958-1962-1970-1994-2002; a tragédia de 1950, quando foi derrotado na partida final por 2 a 1 pelo Uruguai- e no Maracanã; e dramas como o da Espanha, em 1982, quando para lá levou um de seus selecionados mais empolgantes, e que mal deu para a saída. Futebol não é  mesmo uma caixinha de surpresas, como se dizia nas transmissões radiofônicas de antigamente?
Agora, teme-se uma surpresa maior do que uma segunda derrota em casa da seleção cuja história se confunde com a do esporte mais popular do planeta. A de que as milhares de pessoas que em junho do ano passado foram às ruas de todo o país para protestar contra uma porção de coisas, entre elas a Fifa e a Copa- por seus gastos excessivos, roubalheiras, etc. -, às mesmas ruas retornem. Teme-se, sim, a virada de jogo anunciada em manifestações contínuas, com protestos que começaram pacíficos mas redundaram em conflitos violentos, com feridos, prisões ( e até morte), deixando parados no ar os gritos de "Fora Fifa" e "Não vai ter Copa".
Poderá ter sido o próprio secretário geral da (mal) dita Fifa, Jérôme Vacke, o primeiro a jogar lenha nessa fogueira, ao reclamar, em março de 2012, dos atrasos das obras de construção de estádios, de melhoramento de aeroportos, de infra-estrutura em geral, nos seguintes termos: "O Brasil merece um chute no traseiro".
O que teremos hoje, então? O começo de uma festa ou de uma guerra? "A todos, quero dizer que chegou a hora. Vamos juntos, é o nosso Mundial". A convocação é do treinador da seleção brasileira, o Felipão. Outra chamada de primeira página parece situar-se na contramão do seu entusiasmo: "Brasil não esquecerá problemas por causa do futebol". Todos os destaques para as colunas internas do jornal estão editados em forma de bate-rebate. Ao "O que está feito está feito: hora do jogo", contrapõe-se que "Celebração do governo já entra em campo derrotada".
Tinha de acontecer. Em ano de eleições, a Copa acabaria por ser politizada ao extremo, com acirradas disputas fora de campo, a repercutirem nas redes sociais, os territórios livres da opinião pública transformados em exaltados palanques. Em meio ao fogo cruzado que vem dali, é possível, porém, ler-se umas linhas sensatas: "Ao trazer a Copa para o Brasil, em 2007, num momento em que o país bombava, e tudo dava certo, o ex-presidente Lula não calculou que sete anos depois as coisas poderiam estar diferentes". E agora, senhor Luiz Inácio?
Bem, agora é torcer para que sejamos capazes de fazer uma Copa para argentino algum botar defeito, responderia ele, ao seu jeito fanfarrão.
A hora é também de alvíssaras à seleção portuguesa, recebida com festa ontem, em Campinas, São Paulo, onde todas as câmaras estavam focada em Cristiano Ronaldo, com seu new look  campeão . " Craque chega recuperado e atrai uma multidão". Seja bem-vindo,ó pá.
E passemos aos detaques deste primeiro dia.
Fora de campo: protestos em seis cidades-sede, incluindo Rio e São Paulo, com atos de violência e confrontos com a polícia, deixando um saldo de 17 feridos e 70 detidos. Mas, ao contrário do que se temia,as manifestações foram de pequenos grupos, como a comprovar que a maioria quer mesmo é ver a bola rolar.
Em campo: o gol contra, em sentido simbólico, não foi o da seleção brasileira em sua estreia, que não fez o bonito desejado. Na verdade, gol contra foi o que não faltou no estádio, chamado Itaquerão, em São Paulo. A começar pela pífia cerimónia de abertura, que deixou no ar a sensação de que o "o padrão Fifa" só existe com o dinheiro dos outros.
Agora, tão feio quanto isso foi o comportamento de uma parcela do público que vaiou a senhora Presidente da República, Dilma Roussef, e lhe dirigiu ofensas impublicáveis. Vossa mãezinha não vos deu educação, não, gente boa?

13 de junho   
Diego Costa, o brasileiro que hoje veste a camisa da Espanha, sente na pele o que o cronista Nelson Rodrigues quis dizer quando escreveu que em nossos estádios vaia-se até minuto de silêncio. Basta ele, Diego, estar com a bola, para o público pegar em seu pé. Pior que isso só o apoteótico fracasso da (ex?) "Fúria" espanhola. Com craques como Robben e Van Perse, se a Holanda continuar batendo o bolão com que estreou nesta Copa, sei não. (O México ganhou de Camarões. Barba de molho, Brasil).

14 de junho 
Os 3 a O da Colômbia sobre a Grécia do português Fernando Santos não surpreendem tanto quanto a derrota do Uruguai para a Costa Rica. É outro campeão do mundo a tropeçar na estreia. Mais motícias de protestos, desta vez em Belo Horizonte: 11 presos. Em Fortaleza, menores são apreendidos com estilingues, outrora armas de menino caçar passarinho. Por reclamar de ter de jogar em Manaus, a Inglaterra é recebida com vaias pela torcida local, vingada pela Itália, esta, sim, aplaudida pelos duendes da floresta amazónica.

15 de junho 
Personagem do dia: Messi, assim saudado em O Globo: "Quiseram os deuses protetores do Maracanã que a primeira partida do Mundial no estádio tivesse como protagonista um craque da linhagem dos maiores da História". Depois de Argentina 2, Bósnia 1: "A bela deceção de um craque em dia ruim", mas que ainda assim "usou a força e o talento necessários para decidir o jogo num só lance". Na súmula do dia: Suíça 2, Equador 1, França 3, Honduras 0. Por problemas técnicos, os hinos desses dois países não foram tocados. Mais um gol contra da Fifa.

16 de junho  
Todas as atenções estão voltadas para a Bahia, onde Portugal entra em campo com uma entusiástica receção ao seu hino e a responsabilidade de encerrar um hiato de 14 anos sem vencer a Alemanha. E não é pouca a expectativa em torno da estreia nesta Copa do melhor jogador do mundo. O lugar não poderia ser mais apropriado. Foi pela Bahia que os portugueses começaram a inventar o Brasil. Diante das câmaras, a fisionomia austera da primeira-ministra Ângela Merckel se descontrai. O seu compratiota Thomas Muller manda no jogo. A crítica esportiva tripudia: deu chucrute na terra do vatapá. No mais, Estados Unidos 2, Gana 1. O Irã do português Carlos Queirós empata com a Nigéria (0 x  0).`Ó Portugal! Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.

17 de junho 
A continuar do jeito (chocho) que jogou com o México, o Brasil não irá longe. Personagem do jogo: Ochoa, o goleiro mexicano. Registre-se que a Bélgica venceu a Argélia, por 2 a 1, que a Rússia empatou com a Coreia do Sul.

18 de junho 
Quase que a vaca holandesa vai pro brejo. A espetacular Holanda do primeiro jogo passou raspando (3 x 2) pela Austrália, que, sejamos justos, jogou muito. Coitada: vir de tão longe para ser despachada tão depressa. Hoje, porém, quem fez bonito mesmo foi o Chile: 2 a 0 na campeã Espanha que, de repente, parece uma seleção envelhecida. Crónica policial: numa falha grave da segurança da Fifa, 85 chilenos, um paraguaio e um boliviano pularam muros e invadiram dependências do Maracanã. Todos foram presos e expulsos do país. À parte isso, hoje tivemos muitos golos, 11 ao todo, e com uma vistosa contribuição da Croácia: 4 a 0 sobre Camarões.

19 de junho  
Uma vez, em Montivideu, ouvi de uma jornalista de lá que o Uruguai é "o estado mais triste do Brasil". Agora, querida Rosario Peyrou, imagino o quão alegre todos aí estão: Luis Suárez fez a Inglaterra se curvar às suas chuteiras. Bravo! (Em outros campos, São Paulo viveu um dia tenso, com ataques numa rua a torcedores ingleses, e depredações a bancos e agências de automóveis de luxo, por mascarados que se infiltraram numa manifestação pacífica. Desta vez o golo contra não foi da Fifa, mas da polícia paulista, que não chegou a tempo de coibir o vandalismo).

20 de junho  
Arriba Costa Rica! Sua seleção reunida vale menos, em $$, do que o astro Balotelli. Mesmo assim, não se rendeu à Itália. E olho na França, que já deu o ar da sua graça: 8 golos em duas partidas. Enquanto isso, o Equador se levanta do chão. 2 a1 em Honduras.

21 de junho
Messi salva a Argentina( contra o Irã) no último minuto. Saludos, hermanos. O mais emocionante, porém, foi ver a raça de Gana em campo e Klose entrar aos 24 minutos do segundo tempo para marcar o seu e se igualar a Ronalfo (o brasileiro), com 15 golos em Mundiais. A rodada do dia termina com a Nigéria despachando a Bósnia. Fora de campo: num bairro boémio de Belo Horizonte, bêbados brasileiros se envolvem em brigas violentas com borrachos argentinos. (Adiós muchachos, compañeros de bebida...)

22 de junho
Este domingo começa com Portugal ao centro das nossas atenções. E termina com a pobre rima das frustrações. Copa que segue. Multifacetada. Multinacional. Multimilionária. E sem faltar as tais caixinhas de surpresas. Com tudo e por tudo, show de bola, Brasil.(Coluna "Diário" do JL)





Decisão do 3º lugar
12/07/14 (17 h) Brasília (Mané Garrincha)
Brasil x Holanda


FINAL
13/07/14 (16 h) Rio de Janeiro (Maracanã)
Alemanha x Argentina


Um comentário:

  1. Nao curto muito futebol, então muita coisa escrita eu "boiei" hahaha
    Mas valeu as informações!

    Beijinhos
    Sou eu... Pri!

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